Não é só o ato de sentarmos e compartilharmos a comida em si.
Em primeiro lugar, a alimentação é aprendida, e até os 2 anos a criança está no processo de aprender o que isso significa.
Muitos dos desafios surgem porque nós, adultos, desconhecemos que, antes dessa faixa etária, elas não entendem o conceito do comer.
Comer, para uma criança, é uma das atividades mais difíceis porque ela movimenta todos os músculos do corpo, todos os canais sensitivos, uma vez que envolve a parte de toque, de cheiro; além dos elementos de socialização que também são aprendidos à mesa.
Devemos nos lembrar de que a alimentação é mais do que ingerir a comida. É uma ocasião de aprendizado. Durante esse processo, a criança vai desenvolver seus gostos e aversões. Sobretudo, ela vai colocar em prática tudo o que foi aprendendo ao longo dos seus dois primeiros anos de vida. A primeira infância inteira é um processo de aprendizagem que acontece de forma não linear. Isso quer dizer que nesse tempo a criança vai mudando, vai tendo ciclos: o que gostava de comer há duas semanas atrás não lhe apetece mais, por exemplo.
Portanto, o convite aos pais é o de olhar a alimentação como um momento de socialização, de aprendizado, de conversa, de convívio, de trazer aos filhos suas heranças familiares.
O importante à mesa é oferecer os alimentos para as crianças, dar oportunidades para que os experimentem, entendendo que não há como ela responder a essa alimentação da mesma forma que um adulto.
Como em todas as outras áreas de seu desenvolvimento, no que diz respeito à alimentação, a criança precisa de direcionamento, de acolhimento, de tempo.
E como lidar com o desafio das recusas?
Dentro da Disciplina Positiva isso acontece na divisão de responsabilidades. O adulto é o responsável por fazer boas escolhas alimentares, oferecer uma variedade de alimentos de forma adequada, acompanhar a criança durante a refeição para que ela tenha segurança, para que não aconteça nenhum acidente, para que haja oportunidade de comunicação. O comer em si, o quanto a criança vai comer, por exemplo, o que ela vai pegar do prato que lhe foi oferecido é responsabilidade da criança. Não tem como uma pessoa dizer o tamanho da fome do outro.
Devemos entender que nessa fase a criança está tentando se individuar; ela está começando a se reconhecer uma pessoa diferente da mãe, por exemplo. Quando o adulto entende isso, e percebe que não é nada pessoal, mas um processo natural do desenvolvimento da criança, as coisas ficam muito mais fáceis, os conflitos praticamente desaparecem e o aprendizado, em um ambiente mais leve, rico e compreensivo, floresce com muito mais força.
Texto baseado na Master Class – Disciplina Positiva e Alimentação – por Melina Caldani para as mães navegantes em maio de 2021.